GILBERTO GIL - EXPRESSO 2222
"Expresso 2222" completa 40 anos e é reeditado com réplica fiel da capa original do vinil, redimensionada ao formato CD.
Versão remasterizada em Abbey Road do álbum clássico de 1972 é lançada em CD, comemorando os 70 anos de Gilberto Gil.
“‘Oriente’ é a música minha que considero mais pessoal e auto-solidária, mais solitária. Não sou eu em relação a uma mulher ou a uma cidade; sou eu em relação a mim mesmo, a um momento de vida. ‘Back in Bahia’ também é auto-referente; ela e ‘Oriente’ são complementares. Minhas músicas da época são assim. Expresso 2222 é meu disco mais elaborado no sentido de relatar um período”. depoimento de Gilberto Gil transcrito no livro Todas as Letras (Companhia das Letras, 1996, organização de Carlos Rennó), revela não apenas o alcance íntimo de Expresso 2222, LP lançado em 1972, obra fundamental da discografia do compositor, cantor e violonista – e um dos discos mais influentes da história da música popular brasileira. Mais do que fotografar a viagem umbilical de Gil (não à toa a foto de seu filho Pedro estampa a capa do disco), é dos álbuns que retrata agudamente uma época brasileira e universal, no sentido de dar voz a sentimentos comuns da juventude ocidental no momento, a experiências de transgressão, a questionamentos, dúvidas – e poucas certezas.
Expresso 2222 também define uma nova sonoridade, ambientada entre a tradição e a eletricidade – que à altura já não causava mais espanto como quando inaugurada em terras nacionais pelos tropicalistas, no final da década anterior. À ocasião da volta de Gil e Caetano Veloso do exílio londrino, omainstream, por assim dizer, já havia deglutido a guitarra elétrica, empunhada emExpresso 2222 pelo mítico Lanny Gordin (também atuando como contrabaixista). Bruce Henry (baixo), Antônio Perna (piano e celesta), Tutty Moreno (bateria e percussão) e Gil ao violão completam a banda.Hoje perfeitamente reconhecível pelo fã que tem calos no ouvido de tanto colocarExpresso 2222 para rodar na vitrola, a faixa de abertura, a exótica “Pipoca Moderna”, interpretada pela Banda de Pífanos de Caruaru, causava surpresa e preparava terreno para o que viria: o diálogo entre a meninice de Gil (sua paixão pela música dos alto-falantes das festas e feiras nordestinas), a maneira como ele refletia o presente e projetava o futuro. O contraste entre a agreste “Pipoca Moderna” e a faixa seguinte, o rock lascado “Back in Bahia”, revela de cara o tráfego entre as influências de infância, o som pop global do período e a personalidade musical única de Gil que vai perpassar o disco. Mais reinterpretações de canções nordestinas – como a eletrificada “O Canto da Ema”, “Sai do Sereno” (com participação de Gal Costa) e o samba malandro “Chiclete com Banana” (popularizado por Jackson do Pandeiro) – mesclam-se às experimentações modernas de Gil. Apesar do fluir entre vertentes musicais distintas,Expresso 2222 tem uma impressionante coesão de som e de estilo. Sem dúvida um trabalho realizado no melhor espírito dos discos conceituais, que ganha mais sentido quando ouvido do começo ao fim. Em outra palavra, fundamental.
A contracultura,os festivais de música pop que pipocavam no planeta, o uso das drogas como expansoras da percepção, a inquietude de uma geração – tudo isso está presente emExpresso 2222 em forma de música e poesia. “O Sonho Acabou”, em que Gil coloca em dúvida o desbunde do movimento hippie, até com certo ar saudosista do que se acabava de viver, foi baseada na célebre declaração de John Lennon e composta após o final do festival de Glastonbury, na Inglaterra, antecipando a ressaca da utopia de paz e amor.“Oriente” explicita as indecisões do próprio Gil, o momento “o que faço da vida”, a necessidade (ou não) de se dar um norte (ou leste) ao curso do existir, de ceder ao que exige o status quo versus em contraponto ao que se espera de si – refletindo dilemas comuns dos jovens que, como o compositor, viviam o embate entre o mundo careta e suas aspirações humanistas. “Expresso 2222”, claramente inspirada nas flanagens lisérgicas daqueles anos, sugere então o movimento, o desprender-se, a viagem pelos trilhos de um trem imaginário “até onde essa estrada do tempo vai dar”.
Nas faixas mais acústicas, como “Expresso 2222”, “Oriente”, “O Sonho Acabou”, brilha o violão de Gil em alguns de seus momentos mais virtuosos. A remasterização feita a partir das fitas originais por Steve Rooke nos lendários estúdios de Abbey Road, em Londres, descortina nuances das interpretações clássicas de Gilberto Gil e banda emExpresso 2222. Nunca o álbum soou tão claro e tão belo. A reedição de Expresso 2222 chega às lojas brasileiras em comemoração aos 70 anos de Gilberto Gil e aos 40 anos de lançamento do disco. A arte original da capa em vinil, assinada por Edinízio Ribeiro Pimo e Aldo Luiz, com suas abas e dobraduras características, foi adaptada de maneira fiel ao formato do CD. Uma joia reburilada com todo o cuidado para os fãs que presenciaram o lançamento do álbum e para as novas tribos de ouvintes e músicos que seguem sendo influenciados por essa obra-prima.
As faixas de Expresso 2222
1. Pipoca Moderna (Caetano Veloso/Sebastiano Biano), com a Banda de Pífanos de Caruaru
2. Back in Bahia (Gilberto Gil)
3. O Canto da Ema (João do Vale/Ayres Viana/Alventino Cavalcante)
4. Chiclete com Banana (Gordurinha/Almira Castilho)
5. Ele e Eu (Gilberto Gil)
6. Sai do Sereno (Onildo Almeida), com participação especial de Gal Costa
7. Expresso 2222 (Gilberto Gil)
8. O Sonho Acabou (Gilberto Gil)
9. Oriente (Gilberto Gil)